
A Gaudium et Spes (n. 17 e 18) afirma que a liberdade é um dos maiores dons que Deus concedeu ao ser humano. Somente na liberdade é possível abrir-se ao bem, escolher o amor e buscar a verdade. Por isso, o desejo de liberdade, tão presente em nosso tempo, é profundamente legítimo. Contudo, o documento alerta para o risco de uma compreensão distorcida que confunde liberdade com licença ilimitada, como se tudo fosse permitido desde que agrade ao próprio indivíduo. A verdadeira liberdade é sinal da imagem divina, pois Deus quis que o ser humano fosse capaz de decidir, de buscar seu Criador e de aderir a Ele voluntariamente.
A dignidade humana exige que as escolhas sejam feitas com consciência, reflexão e responsabilidade. Agir livremente não significa seguir impulsos ou pressões externas, mas ser movido interiormente pela convicção do bem. A liberdade autêntica se realiza quando a pessoa vence a escravidão das paixões e orienta sua vida para aquilo que conduz à plenitude. Contudo, a liberdade humana, ferida pelo pecado, necessita sempre da graça divina para encontrar seu sentido último e alcançar sua realização em Deus. No fim, cada pessoa prestará contas de suas escolhas diante do Senhor, que conhece o interior de cada coração.
O documento passa então ao tema da morte, considerada o ponto em que o mistério da existência humana se torna mais denso e inquietante. A dor e a fragilidade física assustam, mas o que mais inquieta o ser humano é a possibilidade do desaparecimento definitivo. O coração humano, porém, resiste à ideia de destruição total. Há dentro de cada pessoa um “germe de eternidade”, algo que não se reduz à matéria e que se insurge contra a morte. Nesse sentido, nenhum avanço técnico ou científico, por mais valioso que seja, é capaz de eliminar a angústia diante do fim, pois a prolongação da vida não satisfaz a sede de eternidade.
A fé cristã, iluminada pela revelação, oferece uma resposta profunda a essa inquietação universal. A Igreja proclama que o ser humano foi criado para uma vida que ultrapassa os limites da morte. Ainda que a morte seja consequência do pecado, ela não tem a última palavra. Cristo, com sua morte e ressurreição, venceu o poder da morte e abriu à humanidade o caminho da vida eterna. Em Cristo, a fragilidade humana se transforma em esperança, e a morte deixa de ser um fim absoluto para tornar-se passagem para a comunhão plena com Deus.
Essa esperança cristã não é fruto de imaginação, mas se apoia na ressurreição de Jesus, fundamento sólido da fé. Por meio dessa certeza, o ser humano encontra consolo diante da perda e pode até mesmo permanecer unido aos que partiram, na expectativa de reencontrá-los na vida que não tem fim. Assim, a fé ilumina tanto a liberdade quanto a finitude humana, revelando que o destino do ser humano é viver para sempre no amor e na presença de Deus.
Pergunta para reflexão:
Como a compreensão cristã da liberdade e da vida eterna pode transformar suas escolhas, seus medos e seu modo de viver o tempo presente?
